quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Desmascarando a farsa da semana “prefeituril”...

Tarciso Júnior


Mais um ano se inicia em nossa cidade e no calendário do mês de Janeiro o que tradicionalmente seria um espaço de celebração da arte e da cultura estudantil de Sertânia torna-se gradativamente uma festa de promoção pessoal e de aparelhamento particular por grupos ligados ao governo municipal. Sertanienses, precisamos acordar para uma prática de politicagem que é muito comum em nossa cidade, mas que está acabando por cercear e empobrecer os poucos espaços abertos que temos para as nossas manifestações artísticas.

Saibam, senhoras e senhores, que gerações de estudantes, artistas e cidadãos anteriores à nossa criaram o que hoje chamamos de Semana estudantil de artes e cultura de forma autônoma, isto é, sem a interferência direta de autoridades político-partidárias. Sertanienses, muito feliz foi tal iniciativa, visto que, Janeiro sendo um mês de férias possibilitou que muitos estudantes e artistas filhos da terra, mas que estudam em outras cidades, não só participassem ativamente do evento, mas também que desenvolvessem um precioso intercâmbio cultural com seus conterrâneos. Pois é, com o passar do tempo o evento cresceu e os grupos estudantis e artísticos se enfraqueceram, tornando-se inevitável que o poder público de nossa cidade - atendendo aos anseios da população – se encaixasse como o maior patrocinador do evento e, assim, passasse a ser também seu maior organizador.

Sabemos, pois, cidadãos que a maioria de nós não fica perplexo diante do aparelhamento do evento, visto que, grupos artísticos de fachada e pseudo-organizações estudantis ligadas a funcionários da fraca secretaria de cultura e esportes usam o evento para promover a fracassada politicagem da perseguição contribuindo para que nossa Semana estudantil simplesmente exclua muitas manifestações artísticas em nome da politicagem partidária mesquinha que diminui nossa cidade e faz com que muitos de nossos artistas que desenvolvem importantes trabalhos dentro e fora de Sertânia sejam impedidos de participar.

Dessa forma, sertanienses, como estudante eu convido a todos os cidadãos e estudantes bem como todas as organizações artísticas e culturais sérias da nossa cidade a repensarem a nossa Semana estudantil. Não como um retorno às origens, mas como um real espaço de liberdade artística. Sabemos que em nossa cidade existe grupos artísticos supra-partidários e sérios que estão buscando alternativas a essa semana prefeituril que estamos presenciando. Ter partido não é defeito. Fazer política é uma prática saudável e útil. O errado é usar de politicagem para promover a perseguição. Não há político e nem cidadão que ganhe com práticas podres como as que presenciamos em nossa cidade.


“Posso não concordar com as palavras que tu dizes, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las” – Voltaire.

*Texto escrito por Tarciso Júnior - estudante do curso de História da UFPE e artista sertaniense.

*N.R.-ANO PASSADO NESTE BLOG, EU, QUE DURANTE MAIS DE DEZ ANOS FUI UM DOS ORGANIZADORES DO EVENTO, CRITIQUEI A PARTIDARIZAÇÃO DA SEMANA ESTUDANTIL , COM UM TEXTO E UM POEMA.SE AS PESSOAS QUE HOJE ORGANIZAM NÃO TEM ESSA VISÃO PARTIDARIZANTE, MAS A CÚPULA DA PREFEITURA TEM. FUI PROCURADO PARA PARTICIPAR DA PROGRAMAÇÃO E APESAR DE NÃO COBRAR CACHÊ NÃO FUI INCLUIDO, ASSIM COMO OUTROS ARTISTAS COMO JUNIOR E ATÉ A SAPECAS.HÁ ESPAÇO PARA RECITAIS DE POETAS FORA, CORDELISTAS DE FORA ARTISTAS DE FORA, MAS PARA OS DE CASA, SE VOTOU CONTRAS , NÃO!, NEM DE GRAÇA! TEM NADA, JUNIOR COM CERTEZA LÁ FORA A GENTE É RECONHECIDO E TEM ESPAÇO. VC QUE JÁ SE APRESENTOU ATÉ NO SARAU DA INDEPENDENCIA NO RECIFE.NÓS QUE RECEBEMOS O PREMIO VIVA A LEITURA EM SÃO PAULO.

AGORA DA PRÓXIMA VEZ QUE A GENTE GANHAR ALGUM PREMIO ESSE PESSOAL NÃO DEVERIA TER A CARA DE PAU DE PARABENIZAR E DEITAR FALAÇÃO.HIPOCRISIA É UM PECADO CAPITAL!

REMMEMBER- RECORDAR É VIVER

quarta-feira, 4 de março de 2009
SEMANA ESTUDANTIL VIRA EVENTO PARTIDÁRIO

A Semana Estudantil de Artes aconteceu em janeiro mais ainda é flagrante a repercussão negativa do que rolou. Um evento que possuia um forte componente de resistência cultural e independência em relação aos políticos e seus grupos locais, foi usado por uma minoria, de forma distorcida, para promover a oligarquia dominante no município e para promover a exclusão e a divisão dos artistas e fazedores de cultura da cidade.

Artistas que sempre foram convidados desde os anos 80 e pessoas que tem história na organização da semana estudantil, escandalosamente proibidas de se apresentarem ou de participarem da elaboração da programação.Ano passado, a ACORDES, associação cultural de Sertãnia teve seu nome como organizadora da festa dos estudantes. Esse ano, oficialmente não foi sequer chamada prá participar, usando -se assim o nome da associação dos artesãos. Até a SAPECAS, sociedade dos poetas , escritores, compositores e artistas de Sertânia, entidade com vasta atuação cultural e literária, com vários projetos desenvolvidos na cidade, não foi sequer chamada para se apresentar. Outros artistas também não tiveram espaço. Tudo isso simplismente porque, exercendo seu sagrado direito de escolher,não votam no partido do poder municipal. Que vergonha! A QUE PONTO Sertânia chegou?! GENTE QUE SE DIZ "ARTISTA" E "ATIVISTA CULTURAL" , com um cabeça tão pequena e uma prática tão mesquinha, prepotente e arrogante. ONDE É QUE NÓS ESTAMOS? QUE CULTURA É ESTA? É A FILOSOFIA CORONELISMO, ENXADA E VOTO?

O resultado é o mesmo, desde o ano passado, quando a "comissão"(?)
tomou esse caminho(na ocasião até propaganda de candidato a vereador tinha no folden e discurso de politicos governistas tranformando o palco em palanque) e passavam a idéia de que o evento passaria a ter apoio...receberia verbas enormes e teve até um patrocínio da FUNDARPE. Mas, era ano eleitoral, seu dotô...
Como nem todo ano tem eleição, em 2009 nem governo do estado, nem CHESF...A prefeitura deu uma merreca de dez mil reais( prá um evento do porte da semana, de 7 dias, é uma migalha...) e se virem...
o resultado foi pior que no ano anterior...nem concurso de poesia,acabaram a exposição de artes, não tem mais declamadores na noite de cultura popular, o evento está se descaracterizando, chegando ao ponto de colocar algumas atrações musicais lastimáveis, que nada tem a ver com a semana estudantil e deixando de fora artistas como Antônio Amaral( a quem CÁTIA DE FRANÇA CHAMOU DE VILA-LOBOS DO SERTÃO),Daniel Medeiros, Rona Lopes,Acácio,entre outros...
As homenagens são um capítulo a parte nessa história.Respeitamos algumas das escolhas, mas outras nada tinham de identidade com semana estudantil. Parte deles foi só para a vergonhosa bajulação política, desrespeitando os que fizeram a semana estudantil no passado e
esquecendo personalidades da cultural local como o poeta e crítico literário Luiz Carlos Monteiro ( QUE RECENTEMENTE COMPLETOU 50 ANOS E É UM DOS MAIS RESPEITADOs NO ESTADO), o artista plástico, poeta e dramaturgo premiadíssimo Marcos Cordeiro e o recentemente falecido POETA GEORGE GONDIM ( um dos vencedores do último concurso de poesia da semana estudantil , ainda em 2007).
Soube que na homenagem póstuma a ANDERSON DA UJS, a "cúpula"( 3 0u 4 pessoas) criou todo tipo de dificuldade e tentou vetar a divulgação do poema que fiz prá Anderson, o que só não se consumou graças a interferência corajosa de Mayron e os jovens da UJS, TENDO O REFERIDO POEMA SIDO LIDO NO MICROFONE PELO EX-PREFEITO IVAN , QUE TEVE ASSIM UM GESTO DE GRANDEZA.
Pelo visto não queriam respeitar nem a memória do rapaz, já que misturam as coisas...e nem no folden colocaram o nome dele , que era o homenageado da semana 2009...
Comecei a participar da semana estudantil , na organização em
1987, com Lucas, Orestes, Aurino,Pires, Ari, Duval, Carlinhos,Janilton,
Tonho Amaral,Adelmo, Beleca,Riso Moura,Adilson, lagoa, Isidoro, Aldeci, Vanusa, Renato Ceará, Roque, Leonides, Hélder, Natercio, Alvaro,Paulo, Beta Góis, Sandrinha e muitos outros...naquela época e até bem pouco, chamava-se as pessoas prá participar da organização, de sala em sala nas escolas, prá irem as reuniões, onde todos tinham direto a voz e voto e o espaço na programação era aberto prá todos. Não se misturava as coisas nem havia promoção pessoal nem de politico nenhum.ISSO ERA CONSIDERADO SAGRADO E TINHAMOS ORGULHO DISSO.
A dita cúpula vai pagar um preço caro: entra prá história como as pessoas que venderam a semana estudantil para os poderosos do dia, permitindo que se manchasse a história de todas estas tradições libertárias e se estabelece a censura e o partidarismo. Esse é sentimento que colhi de diversos ex-integrantes que assistiram ao evento este ano, alguns deles residentes no sul do país e que pediram que quando escrevesse esse artigo fizesse um apelo ás pessoas que estiveram presentes:"digam que presenciarm uma festa, mas não digam por ai que assitiram a um semana estudantil..."


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Isso vem provocando reações na opinião do povo e poeta popular já anda escrevendo coisas a respeito, como vemos abaixo:


Semana prefeituril

Uma semana estudantil
Sem Antônio Amaral
Vila-lobos genial
Do sertão veredas mil
Sem cantoria Brasil
da viola que é de Rona
a música vai a lona
já sem concurso poético
desse arraial imagético
cultura não é mais dona

Não tem mais exposição
de artesanato e pintura,
nem de poesia e escultura
Está vazio o salão
Não se tem Declamação
De Zenílton, Gilson Gênio,
Acabou-se o oxigênio
Da poesia popular
Na semana a recitar
Desde o outro milênio

Para Daniel Medeiros
Por que lá não há espaço
A arte fica aos pedaços
sem o nosso forrozeiro
e Charuto o seresteiro
que não se pode esquecer
o que ainda vão dizer?
É pura hipocrisia
Só o partido da poesia
Era o que devia haver

Virou palanque político
homenageando prefeitos
como se fossem perfeitos
retirando o senso crítico
conteúdo paralítico
pode ter merecimento
mas falta questionamento
que é principal atitude
exemplo pra juventude
base do conhecimento

Faltou nesse mês de janeiro
Homenagens culturais
A artistas e outros mais
tal Luiz Carlos Monteiro
Também a Marcos Cordeiro
A quem já fez a semana
A memória não se engana:
Lucas , Adílson , Ari
Não dá pra citar aqui
Pois a lista é sobrehumana



Que saudades da Semana
Quando era independente
Tudo era diferente
A saudade nos reclama
Era grande a sua fama
De a todos abrir espaço
E acolher no seu abraço
Gente de todas as cores
uma aquarela de flores
Para pintar nos seus braços

Todo mundo era chamado
Prá ela organizar
Nas reuniões opinar
Sem ninguém discriminado
Hoje tá tudo mudado
Só pela politicagem
Acabando com a imagem
Do que ela foi um dia
O tudo que possuia
Triturou-se na moagem

Prometeram muitos fundos
De dinheiro do estado
Tomaram todo legado
Excluíram todo mundo
Neste engano profundo
De verbas não veio nada
Uma migalha danada
Somente como esmola
Em uma vazia sacola
Tudo conversa fiada

Ganhou agora apelido
Que vejo o povo falar
É algo de se assustar
Quando ele é ouvido
Curral de um só partido
a semana estudantil
semana prefeituril
que Por fazerem tão mal
virou o maior festival
De babação do Brasil
Postado por Josessandro Andrade às 18:24
Reações:

2 comentários:
Acácio Souza disse...
Parabens poeta estou com vc nessa!!!

5 de março de 2009 05:54
O EDITOR. disse...
Companheiro José Sandro, todos sabemos que sua revolta e indignação tem muito fundamento e estamos solidários a sua pessoa e sentimentos. Mas ficamos tranqüilos em saber que ainda que demore um pouco, teremos pessoas como você, competente e responsável para organizar e administra eventos como esse, sem ter que se rebaixar perante a população para satisfazer o ego de pequenas pessoas para elevar uma moral e um (destaque) que esta prestes a vir por terra.

Grandes homens são reconhecidos por seus nobres atos!
Um grande abraço do amigo e companheiro NEY.


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

ZITO JR. PREMIADO NO FESTCINE DIGITAL DO SEMI-ÁRIDO






ZITO JR. BRILHOU EM UM EVENTO, O FESTCINE DIGITAL DO SEMI-ÁRIDO QUE ACONTECEU NO ÚLTIMO DIA 28, ONDE O SEU CURTA-METRAGEM "CAPA DE CHUVA" FICOU NA 2ª COLOCAÇÃO, ATRÁS DO CURTA CEARENSE DE ANIMAÇÃO "VIDA DE MARIA". O TEMA ERA O SEMI-ÁRIDO E CONCORRERAM 9 CURTAS (APÓS SEREM SELECIONADOS ENTRE OS 68 DA 1ª ETAPA). A VOTAÇÃO FOI FEITA PELO PÚBLICO, APÓS AS SESSÕES, EM CINCO CIDADES DO NORDESTE. PARTICIPARAM DESTE FESTIVAL OS ESTADOS DE PERNAMBUCO, PARAÍBA, RIO GRANDE DO NORTE, BAHIA E CEARÁ.

ZITO JR. É MAIS UM SERTANIENSE BRILHANDO NO CAMPO DAS ARTES, GANHANDO PRÊMIOS E MOSTRANDO QUE SERTÃNIA É UMA CIDADE DE POETAS , DE ARTISTAS E ESCRITORES , CONSITUINDO -SE ASSIM NO CÉREBRO DO MOXOTÓ. INDA MAIS ZITO JR. FILHO DE UM CANTADOR DE VIOLA E UMA BORDADEIRA, SENDO HOJE POETA,TEATRÓLOGO, ARTISTA PLÁSTICO, CINEASTA,
CENÓGRAFO E AGITADOR CULTURAL EM SUMÉ-PB , ONDE TRABALHA COMO PROFESSOR, DIRIGE GRUPO DE TEATRO,MAMULENGO, GRUPO DE DANÇAS , EDITA O JORNAL DE POESIA CABEÇA DE RATO E TEM UM TEATRO COM O SEU NOME, HONRARIA CONCEDIDA PELA POPULAÇÃO DA QUELA CIDADE PARAIBANA.ELE JÁ FOI PREMIADO PELO MINISTE´RIO DA CULTURA, CATEGORIA MELHOR TEXTO TEATREAL INÉDITO EM 2005, COM " A MOSCA, O DIABO E O PADEIRO" E EM 2006 COM O NOVOS AUTORES PARAIBANOS. ZITO JR. É ORGULHO DE TODOS NÓS.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Luiz Wilson lança cordel “AS PROEZAS DE ADELÁDIO” no sertão pernambucano

A todo vapor, Luiz Wilson já inicia o ano com um grande lançamento literário. No último dia 3, o poeta lançou o cordel “As Proezas de Adeládio” realizado no Sítio Recanto Verde, local onde ele nasceu, situado em Sertânia, Pernambuco.
O evento contou com a presença do personagem central, AdeládIo, além dos poetas Josessandro Andrade (vencedor do premio VivaLeitura 2009) , o compositor e poeta Duval Brito, a comunicadora Rosa Maria da rádio Sertânia FM, a personalidade política Nelson Rufino, além da comunidade local.
Na ocasião, Wilson recitou o poema que fala sobre a vida de Adeládio, personagem verídico da narrativa, primo do poeta, que com ele conviveu sua juventude em Sertânia.No cordel, publicado pela editora Luzeiro, Wilson destaca a esperteza sem maldade do matuto, suas artimanhas e causos diversos.“As cidades interioranas do nosso nordeste estão cheias de Adeládios. Essa história nada mais é que o resgate do real cotidiano do homem nordestino, com suas dificuldades e humor autêntico”. Finaliza Luiz Wilson.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

DR. REGINALDO É PREMIADO EM CONCURSO DE MÚSICA CARNAVALESCA

Dr.Reginaldo Siqueira, médico oftomologista, compositor e músico sertaninese mais uma vez foi premiado no concurso de música carnavalesca de Pernambuco. Ele é um orgulho prá Sertânia, elevando
o nome de Nossa terra e do nosso frevo lá fora, assim como já o fizeram Francisquinho, Jairo, Hugo, Walmar, Wilson Freire e tantos outros, ganhando prêmios e sendo gravados por grandes orquestras.

PCR DIVULGA VENCEDORES DO CONCURSO DE MÚSICA CARNAVALESCA 2009

Os vencedores do Concurso de Música Carnavalesca 2009/2010 foram escolhidos no último sábado (26) e domingo (27), durante apresentação no Teatro do Parque. Foram 30 composições que concorreram a 15 vagas para fazer parte do CD de divulgação, que será lançado em fevereiro 2010, quando também acontecerá a cerimônia de premiação dos vencedores. O concurso realizado pela Gerência de Música da Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR/PCR) terá o resultado divulgado no Diário Oficial do município nesta terça-feira (29). Além do lugar garantido nas faixas do CD de divulgação, o concurso prevê ainda a concessão de prêmios especiais. O 1° lugar (música de maior pontuação por gênero) receberá R$10 mil; o 2°, R$ 5 mil e o terceiro R$ 3 mil. Os prêmios de Melhor Arranjo e Melhor Intérprete, correspondentes ao 4° e 5° lugares receberão o valor de R$ 3 mil cada.

Confira abaixo, a lista dos vencedores:

Concurso de Música Carnavalesca Pernambucana 2009/2010 Resultado Oficial das 15 músicas vencedoras.

Categoria: Frevo-de-bloco
1º Lugar: Um bloco chamado saudade - Getúlio de Souza Cavalcanti
2º Lugar: A lua na clave de Sol - Paulo Fernando de Barros e Silva
3º Lugar: Infância e carnavais - Luiz Gonzaga de Castro e Souza Filho
Categoria: Frevo-canção
1º Lugar: - É tradição - Paulo Manoel do Nascimento
2º Lugar: - Bebaço! Devasso! - Severino Luiz de Araújo
3º Lugar: - Frevo no ar - Reginaldo de Siqueira Gomes

Categoria: Caboclinho
1º Lugar: Serra de Alianô - Adalberto Cavalcanti e Publius Lentulus Santos Figueredo
2º Lugar: Trajetória - Roberto Alves de Santana
3º Lugar: Filho do trovão - Rosivânia Gomes da Silva

Categoria: Maracatu
1º Lugar: Cambinda negra guerreira - Bruno Carneiro Leão Pimentel
2º Lugar: Guardião dos Palmares - Rosana Guerreiro Carneiro Leão
3º Lugar: Baque de fé e de festa - Luciano Pimentel Brayner

Categoria: Frevo-de-rua
1º Lugar: No passo do frevo - João Roberto Alves de Santana
2º Lugar: Um passista em Buenos Aires - Maurício Correia Cézar Neto
3º Lugar: Choque Anafilático - Luiz Guimarães Gomes de Sá Melhor

intérprete: Bruno Carneiro Leão Pimentel
Melhor arranjo: Marcos Ferreira Mendes

CRÍTICA LITERÁRIA RECONHECE O TALENTO DA POESIA DE LUIZ CARLOS MONTEIRO

Intelectuais pernambucanos e paraibanos elogiam a poesia de Luiz Carlos Monteiro, mostrando toda a força do seu nome nas letras do Nordeste.Ele vem a se juntar a Marcos Cordeiro, Wilson Freire, Walmar e Jairo Araujo na tarefa de representar Sertânia , enquanto cidade de poetas, ocupando o espaço de prestígio e reconhecimento que fora de nossos Mestres Ulysses Lins, Alcides Lopes, Waldemar Cordeiro, Corsino de Brito , entre outros.Destes poetas e estudiosos abaixo , apenas César Leal ainda não esteve em Sertânia.

OPINIÕES SOBRE A ESCRITA DE LUIZ CARLOS MONTEIRO


Poesia é recusa e resistência à diluição social. Por isso, cabe acolher a voz do poeta Luiz Carlos Monteiro. Nele a poesia é, ao mesmo tempo, afirmação e busca de si, e insurreição do homem confrontando-se tanto com seus limites pessoais, quanto com os de sua sociedade e de seu tempo. Ela pode dar, mesmo a um momento com ressaibos amargos de desencanto, um contraponto de esperança.
Lourival Holanda


Luiz Carlos Monteiro é um poeta competente. Ele sabe captar a imagem presente no espírito, plasmando-a em criações que dão forma e solidez à ideia de ser o Recife uma cidade onde a poesia se edifica a cada minuto do tempo empírico, o tempo heraclitiano, misteriosa correnteza em seu constante fluir. (...) Ele não desconhece que a poesia contemporânea é, antes de tudo, um ato expressivo.
César Leal


Luiz Carlos Monteiro é poeta da cidade, o que quer dizer, das coisas urbanas. Esta é a primeira surpresa anti-biográfica com que se depara o seu leitor. Nascido no Sertão (...), é na “cidade grande” que sua voz ecoa melhor, porque, parece, plenamente afinada com os aspectos por assim dizer mais aflitivos e noturnos da cidade. A sua sombra, quase em contraponto com o corte do verso iluminador. Pois estamos diante de uma poesia clara, cúmplice, discretamente hermética, mas só numa ou noutra passagem, que pede um leitor pensante no mesmo caminho.
Mário Hélio


É rara a sutileza estética, se verificarmos (...), como a mesma cidade que se profaniza é a mesma que se sacraliza pela força dos antagonismos internos da linguagem poética. E tal só me perece possível devido à ironia enquanto elemento retórico fundante, a presidir o lirismo de Luiz Carlos Monteiro. Lirismo cáustico, crítico, lancinante... Atento às faturas marginais da realidade. (...) Ler Luiz Carlos Monteiro é também reler outros instantes da poesia ocidental, uma vez que seus textos, textos de um poeta lido e culto, parecem se querer intertextos, tensos e latentes, dessa poesia que se constrói e se fragmenta no movimento mesmo de seu particular modo de ser. É também conviver com este alerta, alerta irônico e corrosivo, de um poeta que questiona o mundo e que questiona a si mesmo.
Hildeberto Barbosa Filho


Uma outra qualidade que salta aos olhos no trabalho de Monteiro encontra-se na linguagem clara, concisa e serena, sem qualquer sinal da empáfia e do pedantismo muito comuns na crítica universitária. A voz do autor não se resume a um sussurro tímido e abafadiço por trás das inúmeras citações de teóricos – quase sempre do estrangeiro, diga-se de passagem –, como frequentemente ocorre nas dissertações e teses que abarrotam as empoeiradas estantes das nossas bibliotecas. (...) Trata-se aqui, vale a pena lembrar, da voz de um autor que há anos atua em duas frentes – o fazer poético e a crítica literária. É sua experiência no ofício da crítica que lhe proporciona certa imparcialidade de visão, que lhe permite, por sua vez, aliar o comedimento nos elogios à capacidade de apontar “alguns momentos de descenso na qualidade poética” da obra analisada.
Carlos Newton Júnior

POETA SERTANIENSE LUIZ CARLOS MONTEIRO É O ENTREVISTADO DO SITE INTERPOETICA

Veja na íntegra a entrevista do poeta, crítico literário e mestre em literatura, o sertaniense Luiz Carlos Monteiro, concedida ao site interpoetica, dos meus amigos Cida Pedrosa e Sennor Ramos (RECIFE-PE).


Luiz Carlos Monteiro: inquietações existenciais que superam a mera “cor local”

Por Cristiano Aguiar

Fazer esta entrevista, que o leitor do Interpoética lerá abaixo, significou conhecer Luiz Carlos Monteiro duas vezes. Embora eu já acompanhasse seus textos críticos na revista Continente, dentre outras publicações para as quais escreve ou escreveu, nunca antes tinha encontrado este homem de fala suave, natural da cidade de Sertânia, no sertão de Pernambuco. Quieto, Luiz pouco diz de si, deixando o espaço aberto à sua palavra criadora. Talvez seja por causa disto que, só ao entrevistá-lo, fiz minha segunda descoberta: o crítico literário também era um bom poeta, revelando que crítica literária e poesia são faces diferentes do mesmo “comichão” da literatura, da mesma vontade de desafiar o mundo com versos e perguntas.Luiz Carlos Monteiro conversou com o Interpoética sobre tradição e valores literários, crítica universitária versus crítica acadêmica, a poesia de Carlos Pena Filho, bem como sobre sua própria poesia, profundamente arraigada nas cartografias da cidade – que pode ser Recife, Olinda ou qualquer cidade do mundo, pois ela nos aponta em direção a inquietações existenciais que superam a mera “cor local”.

Cristiano Aguiar: Vamos começar pela sua atividade como crítico literário. Você tem experiência nas duas linhas de frente: a crítica nos jornais e revistas e a crítica realizada a partir de pesquisas universitárias. Muitos afirmam que estas duas instâncias são inconciliáveis. Como é seu trânsito entre elas?
LCM: São duas instâncias que guardam peculiaridades e especificidades próprias, embora, num ou noutro caso, possam entrecruzar-se. Os espaços se tornam cada vez mais apertados nos jornais e revistas comerciais, por isto muitos críticos e ensaístas estão preferindo trabalhar textos mais longos, que somente caberiam em livro. É aí que entra a crítica universitária, que resulta da pesquisa paciente e persistente e destina-se, inicialmente, ao público da academia, i. e., a professores, estudantes e ouvintes que participam dos debates ali travados. Contudo, ensaios externos ao que se produz nas universidades devem trazer o possível ajuste metodológico, mesmo que tratem de temáticas subjetivas, abstratas, confessionais, metafísicas. Há professores que conseguem transitar bem nas duas modalidades: Carlos Newton Júnior, César Leal, Luiz Costa Lima, Silviano Santiago, Hildeberto Barbosa Filho, entre muitos outros. No meu caso, venho tentando atender aos desafios que me propõem, sejam acadêmicos ou jornalísticos, mas não sei como medir ainda a eficácia ou não deste desempenho. Isto se vincula bastante à relação com editores, a convites e propostas editoriais que traduzam afinação entre as partes.

Na sua crítica, é importante dizer se uma obra é "boa" ou "ruim"? Quais são os seus parâmetros enquanto crítico?
Esta dualidade, típica e originária do impressionismo para a análise de obras, não deixa margem para o intermediário, onde se arrancha o mediano. Creio que a maioria das obras hoje se sustenta nesta categoria intermediária, de vez que há muito desapareceu a figura do gênio, e daí a ideia de genialidade. Avalio cada livro pensando na surpresa e no espanto que pode me causar. Feito uma espécie de impacto vital que me instigue e incite a fazer coisas, que me leve a uma reconciliação com o humano através de uma obra singular e a deserdar, mesmo que por tempo breve, a normalidade cotidiana. Sobre aqueles trabalhos situados fora de exigências estéticas mínimas e aceitáveis (rigor formal, predominância do poético ou do ficcional sobre uma suposta ou visível “mensagem”, equilíbrio narrativo sem excessos descritivísticos, presença da inventividade em poesia), prefiro não escrever.

Sua dissertação de mestrado fala da obra de Carlos Pena Filho. Como você o situa na literatura brasileira?
A dissertação tenta responder, de modo conciso, a esta questão. Carlos Pena Filho é herdeiro de 45, embora repudiasse essa geração através de entrevistas ou textos. Pode-se situá-lo na temporalidade dos anos de 1950, que é quando começa a publicar com mais intensidade. Foi um sonetista exímio, e manuseava outras formas como poucos do seu tempo. Seu nome é bastante conhecido no país, presente em antologias e histórias literárias, mas sua leitura é feita de passagem, até pela falta de edições significantes de sua obra.

Eu gostaria de fazer a você uma provocação: acho que Carlos Pena foi um poeta em formação, cujo amadurecimento foi interrompido pela sua morte. Você concorda ou discorda?
Penso que Carlos Pena Filho teve um processo rápido de amadurecimento. Aos 18 anos já assinava sonetos impecáveis. Reconhecia-se como um “artesão caprichoso”, o que invalida o aleatório em sua obra. Trazia aquela transpiração que a secura de quem não tem o que expressar rejeita. No seu breve tempo de vida construiu poemas de beleza e sentido únicos e inesquiváveis, que outros passam a vida intentando e não chegam jamais a concretizar.

Sei que é uma pergunta que vai demandar um fôlego maior, mas gostaria de perguntar para você qual a sua leitura das gerações de poetas que surgiram nas últimas décadas, aqui em Pernambuco. Quero destacar três momentos: a famosa e inesgotável Geração 65; o movimento dos poetas independentes, nos anos 70-80; a geração de jovens poetas surgidos a partir dos anos 90 e ao redor da antologia Invenção Recife (publicada nos 00), da qual fazem parte Delmo Montenegro, Fábio Andrade, Jacineide Travassos, Pietro Wagner, Micheliny Verunsk, entre outros.
Deste grupo de poetas surgidos a partir dos anos 90, conheço melhor a poesia de Micheliny Verunsk, pois fiz uma leitura mais apurada de trabalhos seus, e a considero uma poetisa que ainda pode voar bem alto. Li pouca coisa dos outros, mas aprecio a poesia espácio-visual e o experimentalismo que não força a mão. Delmo Montenegro, que escreveu estes versos, não pode esquivar-se à condição de poeta: “o mantra/ verde do meu ego/ e vermelho das minhas verdades/ ainda ninguém achou/ que faremos nós/ pistas deixadas/ em obras inacabadas/ de nenhum autor”. Neste trecho de poema há posicionamentos estéticos e existenciais de apelo corajoso e incidente sobre o fazer poético, sobre a repetição e a imitação, sobre o impasse do poeta ante tudo o que já se escreveu antes dele. No movimento independente, do qual fiz parte durante algum tempo, assumi o risco de certas vivências e ações perigosas e enviesadas, descambando às vezes para a gratuidade e a violência em nome de uma marginalidade radical, utópica e jamais alcançada. Ficaram nomes que atuam ainda hoje, com proposta subdividida e algo diferenciada, pois tanto publicam por editoras quanto em edições alternativas. Preservam, no entanto, a prática dos recitais: Cida Pedrosa, Valmir Jordão, Lara e Jorge Lopes, são exemplos disto. A geração 65 já tem alguns nomes reconhecidos entre os que se foram: Alberto da Cunha Melo e Arnaldo Tobias na poesia e Maximiano Campos na prosa. Entre os vivos, é impossível ficar indiferente à poesia de Jaci Bezerra, Almir Castro Barros, Lucila Nogueira, José Carlos Targino e Tereza Tenório, poetas de propostas bastante díspares, mas de uma forte persistência, o que significa que jamais torceram o nariz para o trabalho poético. Com relação à prosa, Raimundo Carrero e Fernando Monteiro são escritores inquietos, de bom alcance de público, e que ainda têm muito a contribuir para a literatura. Pernambuco ressente-se de mulheres ficcionistas, embora isto não signifique que não existam, apenas precisam de uma interferência e visibilidade maior no campo literário.

Nos últimos anos, uma série de feiras e festas literárias, como a Flip, A Letra e a Voz - Festival Recifense de Literatura, e a Fliporto, vêm dinamizando a vida literária brasileira. Qual a sua leitura deste fenômeno?
Debates, encontros, congressos sempre existiram. Hoje, no entanto, conta-se com um aparato forte da tecnologia da informação e com o apoio mais intenso dos setores público e privado. Até a década de 1980 a grande batalha era a publicação de um livro. A facilidade agora é imensa, inclusive pela concorrência no mercado gráfico-editorial, que tende a baratear os custos. E mais ainda, pelas formas de divulgação e publicação permitidas pela Internet. Em feiras e festas literárias ouve-se a voz de escritores mais de perto, contatos importantes podem ser veiculados, mitos são postos por terra, anônimos podem alcançar alguma visibilidade. A reciclagem de autores é coisa que não pode deixar de ser feita, pois o convite constante aos mesmos nomes cansa, entedia e desvaloriza os eventos.

Da mesma forma, nos últimos três anos ou quatro anos, em Pernambuco, uma série de jovens escritores procura se articular em torno de antologias, revistas e eventos literários: foi o caso, por exemplo, da Crispim, da Vacatussa e do Nós Pós e, agora, do coletivo Urros Masculinos, que vai organizar a Freeporto. Você consegue ver consistência nestas iniciativas? Os jovens escritores estão revelando conteúdo, além de articulação?
A geração 70 nasceu em bases contestatórias e hoje se encontra institucionalizada. A poesia “marginal” de Chacal é distribuída em todo o Brasil através de programas editoriais oficiais que envolvem as escolas públicas. Quando participei do movimento independente assumi posições ideológicas e editoriais radicais, mas tentando manter o diálogo com outros grupos – a Geração 65, os Poetas da Rua do Imperador, a vanguarda local neotropicalista. A articulação dos “novos” é sempre bem-vinda, pois elastece e dinamiza a ambiência literária. A consistência das iniciativas vai depender do “poder de fogo” de quem está à frente de tais movimentos. Chega uma época em que muita gente volta-se para as circunstâncias da vida pessoal, para o estudo mais sistemático, para o trabalho intelectual cotidiano e orgânico. Grupos fragmentam-se, outros se formam, o “novo e iconoclasta” de hoje passa a ser o “oficial e conformista” de amanhã. A questão do conteúdo do que escrevem os que estão chegando agora só pode ser avaliada com a passagem do tempo. Muito do que um autor escreve ou recita no calor do instante pode ser renegado por ele mesmo num futuro próximo. Quando um aspirante a poeta ou ficcionista descobre, depois do entusiasmo inicial, que sua poesia ou sua prosa não se ombreia a um Drummond, a um João Cabral, a um Murilo Mendes, a um Machado de Assis, a um Guimarães Rosa, a um Graciliano Ramos, para citar apenas alguns brasileiros, cai em si e perde toda a arrogância.

Você começa seu livro com os seguintes versos: “Não te evoco,/e também/o louvar não te quero (...) não te rejeito ou refuto, não te renego ou expulso”. Uma característica importante da sua poesia é a da crônica da cidade. Existe um Recife e uma Olinda “verdadeiros”? O poeta é aquele que abraça o real com a maior de todas as generosidades?
Os versos deste livro, Poemas, publicado em 1999, foram pensados e escritos a partir da segunda metade da década de 1970. O Recife era uma cidade onde a boemia corria solta, da Boa Vista ao Bairro do Recife, dos bares de Santo Amaro à zona da Rio Branco. O Beco da Fome ficava próximo ao Diretório Central dos Estudantes da UFPE, e depois das reuniões políticas aproveitava-se para beber. O Beco era frequentado por estudantes, intelectuais, policiais disfarçados, meninas liberadas e dispostas a tudo na noite. Foi nesse ambiente de muita agitação e embate que conheci os poetas independentes, os escritores da geração 65 e outras pessoas de quem fiquei amigo. Vez por outra, arranjava também alguns inimigos. Mas o beautiful people estava mesmo em Olinda, no Cantinho da Sé, no Querubim Bar e no Bar Atlântico, este último conhecido popularmente como Maconhão. Um Recife e uma Olinda autênticos eram os desse clima pós-adolescente, depois de 1976, quando entrei na universidade. Não sem patrulhamento ideológico conviviam a política, que era o real, com a poesia, identificada com o sonho, mas um sonho ainda de transformação da sociedade. E o poeta apostava qualquer coisa nesta luta, ao tempo, radical, seguindo em frente apesar das críticas conservadoras da família, dos amigos de infância e, num viés de teor mais ideológico de esquerda, dos próprios companheiros de partido ou tendência política, que repudiavam o sonho vinculado ao ato da escrita literária. O poema citado aparece na contramão dos poemas “Evocação do Recife”, de Manuel Bandeira e “Provocação do Recife", de Xico Sá.

Ainda falando do poema enquanto crônica da cidade e dos modos de viver na cidade: como evitar que o poema se torne apenas uma variação do fotojornalismo?
O poema urbano tem uma sedução implacável, pela capacidade de visualização dos objetos que permite. Fiz um esforço imenso para escrever alguns poemas nesta direção, pois minha inclinação sempre foi lírica, neo-romântica, confessional. E isto, apesar de ter feito quase todo o curso de Engenharia de Minas, e de ter formado, de quebra, com outros estudantes de engenharia, um grupo de discussão de Lógica Formal e Dialética. Ali, sustentados na intimidade do Cálculo Integral, da Geometria Analítica, da Álgebra Linear, da Física e da Química, ninguém contemporizava nem abria mão de suas opiniões e preceitos, embora, depois dos embates, fosse mantida a cordialidade possível. É preciso que o urbano traga a elaboração de um sentido estético, de um encanto que torne, até certo ponto, a leitura do poema dionisíaca, hedonista, prazerosa, anárquica. E não apenas a simples enumeração objetal. Talvez tenha sido por isso que Mário de Andrade chamou o poeta modernista Luis Aranha de “poeta ginasiano”. Mas, uma solução radical para que alguém se afaste do que você chama de fotojornalismo seria uma volta ao mundo da metafísica e do hermetismo, ao poema filosófico e ao lirismo confessional e intimista.

Nos poemas “Poema parco e tardio a Carlos Pena Filho” e “Poemeto muito antigo à maneira de Manuel Bandeira”, temos um duplo movimento: à crônica da cidade se junta a crônica da leitura. Em ambos, há morte espiando nos avessos... “resto de sombra” ou “negra lama enfim...”, do segundo poema, são contrapontos ao “Tua voz semovente em teu peito/com impulsão a cidade avançando”, versos do primeiro poema, que se referem a Pena Filho. Sua poesia também cumpre uma função semelhante à sua crítica, de fecundar de vida a tradição, às vezes um tanto esquecida, como é o caso da poesia de Carlos Pena? Como suas leituras alimentam o Luiz Carlos Monteiro Poeta?
Tenho uma gama de poemas metacríticos, dedicados a poetas de minha preferência: Murilo Mendes, Rimbaud, Baudelaire, Poe, Artaud, Torquato Neto, Fernando Pessoa, entre outros. Carlos Pena Filho é especialíssimo, poeta de quem gostaria de ter sido amigo. Foi poeta em tempo integral, boêmio, charmosamente triste, culto, simpático,voluntarioso e irônico. Quanto a minhas leituras, leio de tudo, inclusive muita ficção. Por exigências do trabalho crítico-analítico, especifico hoje mais essas leituras, privilegiando a teoria e a crítica literária, não dispensando, no entanto, o suporte dos textos históricos e filosóficos. Um texto crítico, daqueles de vertente mais criativa, pode incitar o poeta a escrever, num determinado momento, seu poema. Mas quem estimula e aprimora mesmo a escrita da poesia é a leitura da própria poesia, a aparição e consequente seleção daqueles poetas que, por vezes temporariamente esquecidos, podem vir à tona a qualquer instante com bastante força e vigor.

Há muita plasticidade em seus poemas, como é o caso de “O canavial flutuante ou visada do Rio Formoso” ou “Grafito em Olinda”. As artes visuais, a pintura, principalmente e, mais especificamente, a pintura de matriz moderna, são referências quando você compõe versos?
A arquitetura, a pintura, a visão mágica e áspera da Natureza do litoral ou da caatinga, as belas e funcionais construções urbanas, nos colocam no centro de um mundo plástico e visual. Convivi com alguns pintores e pintoras, e sempre acreditei que a pintura, assim como os arranjos musicais (e aqui discordo de João Cabral), mantém uma grande aproximação com a poesia. Mas, a pintura não é a principal referência na minha poesia, e sim uma delas. Os sentimentos mais recônditos ou explícitos que carrego, a tentativa de compreensão do outro, o imaginário de um mundo futuro e ainda possível porque não aconteceu em bases justas e solidárias, são referenciais importantes na poesia que faço.

Poemas como “Dois poemas sobre um motivo de Vielimir Khlébnikov” e “Poema autografado num envelope contendo uma fotografia amarelada” surgem de um eu lírico que fala a partir de uma posição solitária, na qual os sentidos da vida parecem estar em dissolução; mas o Outro, aquele que caminha na cidade, também é solitário: seus personagens são os bêbados, os cegos pedintes, os arlequins, os poetas soltos nas ruas – aqueles que não se “enquadram”. Gostaria que você comentasse isto.
Os dois poemas citados refletem a experiência cotidiana da solidão do poeta em seu quarto, a escrever e a ler desbragadamente, a sublimar amores impossíveis com o esteio e o auxílio luxuoso da literatura e com a inclinação clandestina, à época, do pensamento político. A vertente visionária dos personagens marginais e marginalizados é de origem baudeleriana, poeta que li demais e intentei absorver alguns temas e personagens malditos seus. O desajuste social destes personagens reflete algo do desajuste do próprio poeta, que teima, ou teimava, em não alinhar-se a vivências e situações flagrantes em que estivessem envolvidos os numerosos braços de polvo do status quo. Também num sentido de denúncia, sem a esperança ilusória de um grande alcance, ao modo de Neruda, Whitman ou Castro Alves, mas contribuindo, dentro de limitações próprias e às vezes reconhecíveis, para a consecução e dinamização do processo social e literário.


WELLINGTON DE MELO é escritor, professor & crítico da vida.
CIDA PEDROSA é poeta, advogada e editora do INTERPOÉTICA.